Por mais que o tempo passe, o velho ditado “a união faz a força” nunca envelhece. Pelo contrário, ele é revisitado com muita frequência e, em nossos dias, é a mola propulsora de um modelo colaborativo que perpassa esferas pessoais, comerciais e organizacionais, definindo novas formas de relacionamento e também de negócios. No universo das instituições financeiras, este modelo é praticado de modo a fortalecê-las, tanto corporativamente – como segmento representativo, importante e influente nos rumos e decisões da vida nacional – quanto individualmente, pela busca e utilização de soluções que são compartilhadas, por atendê-las nas necessidades que são comuns a todas elas.
Especificamente no segmento das cooperativas financeiras, esse comportamento, apesar de praticado, precisa ser estimulado e consolidado, não somente por sua afinidade com a filosofia cooperativista, mas também por sua importância para a conquista de maior eficiência operacional, para o aprimoramento do setor e para a prática da intercooperação.
É sobre essas questões, e sobre outras de igual significado e relevância, que desejo fazer aqui alguns comentários e tecer algumas considerações, tendo em vista a necessidade e a oportunidade de que esses temas sejam objeto de nossa atenção e reflexão, para posicionamentos e ações, notadamente com a aproximação dos debates no grande palco do 12º CONCRED.
Nesse sentido, a primeira coisa que precisamos ter sempre em mente é o diferencial que existe entre as cooperativas financeiras e as demais instituições financeiras, principalmente os bancos. Ter certeza de que nossos objetivos, nossas metas e nossas ações verdadeiramente se baseiam na filosofia, nos ideais e nos princípios cooperativistas, inclusive na visão de que nossos cooperados não são apenas meros clientes. Eles são também os donos e a razão de ser de nossas instituições. Na Conferência do WOCCU, em julho passado, Brian McCrory, então Presidente daquela entidade mundial, lembrou enfaticamente que “somos diferentes na filosofia, no propósito e na maneira de fazer negócios”.
Crescer, expandir, consolidar, fortalecer são condições essenciais para a perpetuidade das instituições, entre elas as cooperativas financeiras. Contudo, as convicções acima nos habilitam a fazer e a responder indagações como “por que, em que medida e de que modo os Sistemas e as cooperativas financeiras solteiras podem e devem crescer sem perder de vista nem abrir mão de sua identidade cooperativista”, focados, antes de mais nada, na pessoa, que no caso é o cooperado.
No que se refere ao incentivo ao desenvolvimento local, que é o 7º Princípio do Cooperativismo, entre outros, essa convicção nos induz a melhor definir geograficamente as regiões, cidades e áreas que mais precisam de nossos postos de atendimento. Se necessário, até mesmo recorrer a exemplos da Alemanha, onde o cooperativismo financeiro mais privilegia estar presente no interior e nas pequenas cidades do que nos grandes centros e nas regiões mais desenvolvidas, por entender que é ali que a população mais precisa de inclusão financeira, alcançada por meio dos produtos e serviços financeiros cooperativistas.
Com essa compreensão, será também mais fácil evitar a sobreposição de estratégias de atuação e seguir conjuntamente em busca de soluções tecnológicas e prestação de serviços que sejam necessidades comuns dos Sistemas e das cooperativas, assim como rumo à consolidação e ao fortalecimento das entidades representativas do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo – SNCC.
O aumento da eficiência operacional deve ser uma busca constante do setor, tendo em vista permanentemente reduzir custos e suprimir despesas, potencializando resultados, bem como maior capacitação e qualificação dos aproximadamente 16 mil líderes cooperativistas, de modo a possibilitar às cooperativas financeiras implantar estruturas de governança mais leves, ágeis e menos onerosas para às organizações.
O aumento da eficiência operacional vincula-se ainda ao monitoramento de tendências e à assertividade de diretrizes e iniciativas que levam em conta a evolução, o posicionamento e os direcionamentos do mercado, evitando assim repetir experiências comprovadamente ineficientes e ineficazes, já superadas e descartadas por outras – e maiores – instituições financeiras.
É comum ficarmos sempre entusiasmados ao constatar o crescimento de nossas cooperativas e, com isso, não raras vezes somos levados por esse sentimento a superdimensionar nossos resultados junto à mídia em geral, exatamente por não os relativizá-los em comparação aos grandes números do Sistema Financeiro Nacional. Se forem deliberadas, ostensivas e recorrentes, entendo que essas atitudes certamente poderão resultar desfavoráveis para o Cooperativismo Financeiro, principalmente se forem percebidas, pelas demais instituições do setor, como provocação e ameaça.
Sabemos que o Banco Central monitora e acompanha a atuação e a evolução do Cooperativismo Financeiro em nosso país, de forma vigilante e eficiente. Sabemos também que, do mesmo modo que as cooperativas financeiras têm grandes compromissos com os cooperados, elas igualmente têm grandes compromissos com a sociedade em geral, sobretudo em decorrência da isenção tributária das transações consideradas Ato Cooperativo. Por isso, se não apresentarem produtividade e resultados sociais que correspondam ao esperado pelo diferencial tributário concedido, as cooperativas financeiras poderão ficar expostas a questionamentos de determinados setores da sociedade quanto à efetividade e necessidade do benefício fiscal, o que pode vir a colocar em risco a continuidade dessa isenção tributária. Precisamos proteger este legado de forma suprassistêmica.
Como vemos, a permanente expansão e o sucesso do cooperativismo financeiro no Brasil dependem, inegavelmente, do reconhecimento, da preservação e da valorização da natureza e da identidade original de nossas cooperativas financeiras. Dependem também da percepção exata que essas instituições têm sobre o cooperado e, em torno dela, da adoção de posicionamentos, estratégias e ações que contemplem a união, a busca conjunta de soluções para as necessidades comuns, o fortalecimento corporativo e institucional, o monitoramento de tendências, a inovação e a assertividade de processos e de propósitos. E, por fim, da excelência no atendimento aos anseios dos cooperados e da resposta positiva que oferecerem às expectativas da sociedade.
Precisamos estar constantemente refletindo sobre o que somos e de que lado estamos. E sobretudo comunicar com constância e transparência aos nossos cooperados e à sociedade em geral sobre o valor diferenciado que o Cooperativismo Financeiro continuará entregando às pessoas, às comunidades e à Nação. Somente assim o crescimento será sustentável.
Presidente na Confebras e Diretor Executivo na Cooperforte