Uma reflexão sobre o papel sustentável do modelo de negócio de crédito cooperativo pela ótica panorâmica do mercado.
Sustentabilidade está estreitamente ligada à inovação e pode ser entendida como o desenvolvimento da continuidade de ciclos ininterruptos, seja nos aspectos sociais, ambientais, culturais ou econômicos. Em nosso debate principalmente nos corporativos e operacionais, este aspecto tem mais abrangência. O símbolo do infinito representa bem o significado do termo. Tornar algo sustentável é tornar perene a vida útil da atividade realizada, respeitando o ambiente, suas matérias-primas utilizadas e consequentemente o agente realizador.
Então vale a reflexão do ato de inovar como, por exemplo, criar ou recriar algo útil, econômico, de possível e descomplicada replicação, sendo essencialmente sustentável. Na ótica do cooperativismo financeiro, inovar não tem o sentido primário de gerar vantagens competitivas no mercado, mas a intenção de melhorar o atendimento às necessidades financeiras com melhores experiências aos associados. Tudo isso em conjunto com a busca pelas soluções comunitárias e ambientais.
As fintechs, hoje em voga pela forma pragmática de prestar os serviços financeiros, são inovadoras startups financeiras totalmente digitais, e assim, também sustentáveis no sentido, econômico, ambiental e temporal. Não muito diferente do Cooperativismo Financeiro, o qual tem o propósito coletivo e colaborativo nas tarefas cotidianas e, por conseguinte, nos serviços finais aos associados, estas startups chegam e tiram não somente os bancos tradicionais da zona de conforto, mas outrossim as cooperativas financeiras.
O cooperativismo financeiro do Brasil precisa de mais estímulos à cultura da inovação, afinal, a era pós-digital traz consigo a quebra de paradigmas já consolidada, e vem como pedra no sapato da maioria dos bancos, no entanto, depende do ponto de vista, pois o ideal é que sejam interpretadas como a oportunidade para explorar diversas possibilidades ainda camufladas, por meio de soluções inovadoras que naturalmente sejam sustentáveis.
Visão dos líderes
Na Confebras, fizemos uma interpretação pouco ortodoxa na relação entre Governança, Sustentabilidade e Inovação. Reconhecemos nestas três esferas uma interligação integrativa, ou seja, para que uma aconteça com eficácia e assertividade, a outra deve ser ativada. Como uma reação em cadeia ou uma estrutura hierarquizada. Numa alusão ao grupo familiar, dizemos que a “Sustentabilidade é filha da Inovação e neta da Governança.”, em interpretação sintetizada, tratamos a Governança como a matriarca da tríade citada, bem como, de todos os processos de decisão das corporações financeiras.
Com base nesse raciocínio os líderes são as chaves-mestras que desencadeiam as ações corporativas para resultados sustentáveis que permeiam todas as partes envolvidas. A priori a Sustentabilidade dos negócios cooperativistas financeiros, é fecundada na cúpula da Governança, a qual deve estar atenta às demandas do mercado.
A visão da Cooperativa aos Associados: conquistar as novas gerações é premissa sustentável
O foco das Cooperativas Financeiras sempre esteve direcionado aos seus cooperados. Solucionar demandas financeiras do cotidiano, empresariais e de categorias é prioridade e deve sempre continuar sendo, porém hoje, com algo a mais. É preciso sair novamente da zona de conforto, para fazer mais que solucionar tudo com uma troca justa, amigável e também admirável, em comparação aos bancos tradicionais. Atualmente, tudo isso é padrão e para diferenciar-se as exigências são maiores.
Para manter a sustentabilidade dos negócios cooperativos, é necessário se adaptar às atuais circunstâncias digitais cada vez mais conectadas à realidade das comunidades brasileiras. Tal cenário induz superar a primazia pela excelência na entrega dos serviços, por já ser entendida como essencial, e parte pela busca a proporcionar melhores experiências no decorrer de cada operação, consulta, atendimento, em exatamente tudo.
Pensar em sustentabilidade é viver o presente sempre, porém, de olho no futuro, o dia seguinte precisamente. Ou seja, pensar em gerações. Quais os anseios das gerações Y (nascidos em 80) e Z (nascidos no final de 90), tão conectadas ao digital, tão imediatistas em resolver questões financeiras do dia-a-dia com cliques ou toques nas telas de dispositivos móveis? A resposta está nas experiências memoráveis, práticas e resolutas. Experiências simples, instintivas, mas que valorizem aos anseios digitais dos jovens adultos. Conquistar as novas gerações com experiências digitais assertivas é premissa sustentável para o modelo cooperativo financeiro.
Sustentável a um raio de 360°
Devemos reconhecer o poder do negócio cooperativo financeiro para gerar uma atmosfera sustentável em 360° de sua atuação. A cooperação em si é a melhor forma de coexistência da humanidade, como já defendia John Nash, Nobel de Economia em 1994.
As Cooperativas Financeiras têm o poder de transformar as realidades econômicas de comunidades, cidades, regiões e sustentar o desenvolvimento de países. Os princípios cooperativistas, os quais convergem para um fundo ético e moral, são intrínsecos em suas ações diárias e fazem total sentido para edificar o coletivo.
No modelo de negócio cooperativo financeiro, o capital é apenas o meio, o insumo para gerar soluções compartilhadas entre os associados, os quais são o centro das atenções. Ênio Meinen, nos recorda em sua obra, Cooperativismo Financeiro: Virtudes e Oportunidades, o efeito sustentável e cíclico que o modelo cooperativo proporciona nas esferas das comunidades:
“as cooperativas financeiras impulsionam o desenvolvimento local e asseguram o reinvestimento dos recursos nas comunidades de origem, e assim criam um círculo virtuoso que leva à geração de novos empregos, ao aumento do consumo e, por via de elevação das receitas tributárias, ampliam a capacidade de investimento em saúde e na educação das populações residentes.”
Considerações finais
O modelo de crédito cooperativo engloba valores subjetivos que reverberam por extenso raio de atuação. Em si é sustentável, pois mesmo em momentos de crise mantiveram-se estáveis e com relativo crescimento. Contribui à sustentabilidade das finanças dos associados, uma vez que investe em educação financeira, por entender que a boa saúde financeira dos cooperados reflete na sustentabilidade do negócio cooperativo. Por uma visão macro do contexto, contribui econômica, social e ambientalmente em suas comunidades, pelos princípios éticos e morais que carrega e pratica.
Contudo, percebe-se hoje que não é permitido estagnar, devido ao crescimento populacional e nisso o nascimento de novas gerações, mais hightechs e exigentes não somente em qualidade e conveniência dos serviços, pois entendem como padrão, mínimo, mas vão além, com desejos em experiências que solucionem outros problemas da vida agitada e multidisciplinar de atualmente. A sustentabilidade do negócio cooperativo financeiro depende do entendimento e eliminação das dores financeiras das personas representantes das gerações Y e Z, este é o mercado a ser desbravado, principalmente pelas ferramentas digitais. Propagar a cultura cooperativista financeira já não é suficiente. É necessário comprovar com as melhores experiências.