O mundo comemora hoje 200º aniversário do idealizador do modelo utilizado pela maioria das cooperativas de crédito modernas
Friedrich Wilhelm Raiffeisen nasceu na Renânia, Alemanha, em 30 de março de 1818, há exatos 200 anos. Filhos de agricultores, assumiu, desde jovem, após o falecimento do pai, os encargos familiares e identificou sua principal missão observando as dificuldades enfrentadas pelos lavradores locais, sobretudo pela falta de crédito e a impossibilidade de obter sobras face aos elevados custos de produção e ao preço de venda aviltado de seus produtos.
Raiffeisen desenvolveu tamanha empatia para com os trabalhadores rurais que se engajou em projetos humanitários destinados a transformar a dura realidade do campo. Inicialmente inspirado em princípios sociais cristãos e no exemplo do precursor do cooperativismo financeiro urbano, Hermann Schulze-Delitzsch, mobilizou-se na fundação de sociedades de crédito em que ricos cediam os capitais necessários em ‘táler’ (antiga moeda alemã de prata) e os agricultores pobres recebiam esses recursos para aplicar na sua atividade, em forma de doação.
Logo percebeu que o assistencialismo não era a solução definitiva para a miséria e as desigualdades sociais reinantes. Em 1848, Raiffeisen mudou radicalmente o seu sistema fundando as primeiras cooperativas de crédito homogêneas do meio rural. Por meio delas, os camponeses foram impelidos a aprender o valor da poupança aliado ao conceito da ajuda mútua. Adotou-se, a partir de então, o princípio self-help (autoajuda) fortemente alicerçado no mandamento cristão da solidariedade e na força coletiva.
Por sua adequação e eficácia, o modelo passou a ser adotado pela maioria das cooperativas financeiras em todo o mundo, expandindo-se para além do setor agrícola. Embora o Cooperativismo tenha surgido em Rochdale, na Inglaterra, a Alemanha se tornou um marco mundial entre as cooperativas de crédito, graças a Raiffeisen. Com ele, surgiu o capital social, que hoje é uma característica indelével das cooperativas de crédito.
Um ano após sua morte, ocorrida em 1888, os propósitos fortes e ideais transformadores de Raiffeisen continuaram repercutindo em várias partes do mundo, resultando na constituição de cooperativas inspiradas em seu modelo, na Itália, França, Holanda, Inglaterra e Áustria e em nações fora do continente europeu, tendo inclusive influenciado a criação do sistema Desjardins, no Canadá.
Em 1913, mais de 2 milhões de alemães eram associados de cooperativas de crédito. Destes, 80% viviam em comunidades pouco povoadas, com cerca de 3 mil habitantes, fato expressivo e contundente do sucesso atingido pelo modelo Raiffeisen.
Atualmente, a Alemanha, cuja população é cerca de 82,8 milhões de habitantes, tem mais de 8 mil cooperativas, que agregam aproximadamente 23 milhões de associados, correspondendo a 28% da população germânica.
A herança da marca Raiffeisen é utilizada, em nossos dias, pelo Raiffeisenbank, o maior grupo bancário da Áustria, que tem 434 bancos independentes e mais de 1.500 agências bancárias. Na Alemanha, o cooperativismo de crédito tipo “Raiffeisen” detém hoje em torno de 2.250 cooperativas agrícolas.
No Brasil, coube ao padre suíço Theodor Amstad introduzir o modelo Raiffeisen, em 1902, ao fundar a primeira cooperativa de crédito do país e de toda a América Latina, a Caixa Rural Raiffeisen, em Nova Petrópolis – RS.
Hoje denominada Sicredi Pioneira, a cooperativa permanece atuante e em constante crescimento, com mais de 116 mil associados e carteira de crédito superior a R$ 920 milhões.
Celebrar os 200 anos de nascimento de Friedrich W. Raiffeisen é, sobretudo, um momento de reflexão a respeito do papel da colaboração e da solidariedade financeira para superar desafios e desigualdades.
Neste contexto, registro as efusivas palavras proferidas por Manfred Dasenbrock, chairman do Sistema Sicredi, no prestigiado evento em homenagem aos pioneiros Friedrich Raiffeisen, Theodor Amstad e Mario Kruel Guimarães, realizado no último dia 22, na sede em Porto Alegre – RS, “Mesmo que o modelo Raiffeisen tenha sido criado há tanto tempo, ele ainda é forte e carrega os mesmos grandes ideais: cooperação, igualdade e transparência. ”
Inspirado no exemplo edificador de Raiffeisen desejamos que o Cooperativismo de Crédito brasileiro continue crescendo junto e de forma justa e solidária para todos.
Por Kedson Pereira Macedo – Presidente da Confebras e Diretor Executivo na Cooperforte