Uma iniciativa inovadora de intercooperação pode levar as cooperativas financeiras singulares independentes a um novo patamar de prestação de serviços e fortalecer o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo como um todo. Trata-se da Confebras UNE, plataforma de soluções compartilhadas para ofertar produtos e serviços às coops independentes por meio da intercooperação com grandes cooperativas, sistemas e centrais.
O portfólio da Confebras UNE contará com produtos a preços acessíveis e outros gratuitos, sempre disponibilizados por meio de termos de intercooperação firmado entre a Confebras e as cooperativas”, revelou Telma Galletti, superintendente da Confebras. “O objetivo é atender a demandas ligadas às três dimensões que estão no nome da plataforma: U, de universo coop; N de negócios coop; e E de estratégias coop.”
A plataforma Confebras UNE foi apresentada ao público pela primeira vez no dia 23 de junho, durante o workshop Desafios e Práticas de Sucesso do Cooperativismo de Crédito, organizado pelo Banco Central. De acordo com a superintendente da Confebras, o objetivo da plataforma é colocar a intercooperação em prática e levar esse princípio do cooperativismo para o dia a dia das 217 cooperativas singulares de crédito independentes do Brasil.
Sabemos que a intercooperação entre uma central de dois níveis e uma singular independente é algo desafiador, ainda disruptivo. Por isso, estamos fazendo um trabalho de formiguinha, de sensibilização. Na Confebras UNE, não queremos trabalhar com parcerias, e sim com intercooperação na prática.”
As necessidades, segundo Telma Galletti, foram levantadas após compilação do resultado da pesquisa aplicada nos meses de agosto a outubro do ano passado junto às cooperativas independentes, aparecendo como principais desafios tecnologia, exigências dos órgãos reguladores, governança e expansão de produtos e serviços. “Com a aplicação da pesquisa, identificamos que muitas cooperativas independentes sequer têm um site. Essas são necessidades básicas que a gente precisa ajudar a resolver. Por isso, a Confebras vai interconectar o universo coop buscando essas soluções compartilhadas”.
A iniciativa pretende ajudar a melhorar o funcionamento no dia a dia das cooperativas singulares independentes, tornar a operação delas sustentável e perene, e ampliar a oferta de produtos e serviços aos cooperados.
ENTENDA O PROJETO
O projeto Confebras UNE começou a ser desenvolvido em outubro do ano passado, a partir de um levantamento realizado pela Confebras sobre as principais demandas das cooperativas de crédito independentes do Brasil. O estudo contou com a participação de 62 cooperativas, em um processo que serviu de base para um trabalho posterior de análise de mercado, definição dos produtos e serviços a serem disponibilizados, estimativa de custos e estudos de viabilidade.
O projeto-piloto entrará no ar em agosto, com quatro cooperativas, selecionadas dentre 16, que participaram da pesquisa e das etapas do Ciclo Dialogar e Desenvolver do 4º Fórum Integrativo Confebras e que acreditam no projeto como ferramenta de impulsionamento. A última etapa do evento, denominada Ciclo Materializar, será realizada presencialmente, nos dias 30 e 31 de agosto, em São Paulo.
Durante o piloto, a Confebras testará o funcionamento da plataforma para aperfeiçoá-la até o lançamento para outras cooperativas independentes, previsto para julho de 2024. Os resultados da etapa piloto devem ser apresentados durante o 15º Congresso Brasileiro do Cooperativismo de Crédito (Concred), que será realizado em agosto do ano que vem, em Belo Horizonte.
Os benefícios esperados pelo lançamento da Confebras UNE são inúmeros”, antecipa Telma. “O crescimento das cooperativas singulares independentes fortalecerá o ecossistema cooperativista como um todo, trazendo mais eficiência operacional para o nosso setor.”
INTERCOOPERAÇÃO NA PRÁTICA
A plataforma Confebras UNE é a materialização de um objetivo antigo do presidente da Confebras, Moacir Krambeck, para o setor cooperativo de crédito: a implementação, na prática, da intercooperação.
A intercooperação é um princípio do cooperativismo ainda pouco praticado”, lamentou Krambeck. “É inaceitável que cooperativas independentes tenham que operar com bancos concorrentes. São cooperativas, têm cooperados. Temos que mostrar que somos uma unidade no país. Competitividade e escala se ganha quando se trabalha junto.”
Defensor aguerrido da intercooperação, o presidente da Confebras também argumenta que a aplicação prática desse princípio pode ampliar o conhecimento e a divulgação do cooperativismo de crédito entre os brasileiros.
“Às vezes nem mesmo o cooperado sabe os diferenciais do cooperativismo. Ele chega até a cooperativa porque o preço é bom e lá ele é muito bem atendido. Mas ninguém se preocupa em dizer para ele o que é uma cooperativa. E é preciso fazer isso. Quando um cooperado escolhe uma coop, ele tem de se revestir do espírito da solidariedade, saber que está se associando não para levar vantagem, mas para compartilhar todos esses benefícios e ajudar seu semelhante”, ponderou Krambeck.
O chefe do Departamento de Supervisão de Cooperativas e de Instituições não Bancárias (Desuc) do Banco Central, Harold Espínola, acrescenta que a intercooperação e o interesse pela comunidade são ferramentas do cooperativismo de crédito para alcançar duas prioridades do setor: resgate dos princípios como forma de negócios e enfrentamento da concorrência.
Estamos criando, aqui, um espaço para que as cooperativas de crédito se olhem e confiem mais umas nas outras. Sem a confiança, nada caminha. A intercooperação não é só negócio, é também crescer juntos”, convocou Espínola.