As décadas como publicitária sempre obrigaram Beia Carvalho a estar um passo à frente de tudo que era padrão: precisava disso para ter insights diferenciados e produzir peças e marcas criativas para as grandes empresas que a contratavam. Foi assim que ela ganhou quatro leões em Cannes, o principal prêmio da publicidade no mundo.
Mas a criatividade que tanto utilizou na carreira também lhe abriu os olhos para os rumos que a sociedade estava tomando: a inovação. E, então, largou tudo para se tornar ela mesma um produto:
desde 2014, Beia é uma palestrante futurista, especialista em transformação, em inovação e na disruptura.
A frase que estampa o título deste texto é dela: é um espelho do que ela mais acredita e utiliza para mostrar aqueles que assistem as suas palestras o quanto o futuro não está no amanhã. Beia foi uma das palestrantes do 2º Fórum Integrativo Confebras, que aconteceu em outubro em Brasília. Veja a entrevista que ela concedeu à Confebras.
Confebras – A intercooperação é um dos princípios do cooperativismo que mais está em alta hoje. Qual é a importância disso?
Beia Carvalho – A lógica das iniciativas colaborativas inverte tudo aquilo que vigorou e ainda vigora hoje, nesta era de transição em que estamos vivendo. Até então, quando nos deparávamos com uma nova tendência nos negócios, na comunicação, na educação, o poder gestor se informava sobre a nova tendência e a implantava da maneira que acreditava ser mais benéfica para a empresa. Mas agora, quando falamos em movimentos colaborativos, a pergunta que o gestor deve fazer a si mesmo é: “como a gestão interna, ou a logística, ou o setor de compras, da empresa pode se beneficiar da colaboração?”. O paradigma, portanto, já é quebrado na origem. Como NÓS vamos funcionar? Por onde NÓS vamos começar? Por que é melhor começar por aqui? Quem mais poderia participar? É preciso ficar claro, de antemão, que a colaboração não é uma modinha, muito menos a resultante de seres humanos melhores. Os humanos continuam sendo egoístas, invejosos, amorosos, loucos, etc, como sempre foram. O que mudou foi a forma como o mundo evoluiu de linear, para exponencial. Passamos de um mundo que antes evoluía por passos para um mundo que hoje evolui por saltos. De um mundo complicado para um mundo complexo. E é mais fácil resolver problemas de um mundo complexo, por meio da colaboração e do compartilhamento de informações.
Confebras – Em suas palestras, você incentiva as pessoas a visualizarem seus negócios daqui a cinco anos como forma de mantê-los inovadores. O cooperativismo de crédito nasceu de uma ousadia bem parecida, mas em outras décadas – a própria ideia de intercooperação é um exemplo disso. Como um segmento que, tradicionalmente, já possui um perfil diferenciado pode continuar sendo protagonista no mercado sem errar o passo?
Beia Carvalho – Não existe a ideia de inovação e de se diferenciar no mercado sem apostar em riscos. Sempre haverá riscos. Mas como vamos nos posicionar em relação a eles? Numa era complexa, erros são bem-vindos, especialmente se estivermos preparados para reconhecê-los de maneira rápida e sem perder tempo em ficar apontando culpados. O mais importante disso tudo é se mover velozmente em direção aos aprendizados trazidos pela experiência anterior. Não é fácil. É um novo modo de pensar. E como dizem os americanos: um novo mindset.
Confebras – E para finalizar, pegando emprestado o tema da sua palestra: quais são os desafios e as oportunidades dessa intercooperação para fortalecer os negócios?
Beia Carvalho – Os desafios são muitos e são muito excitantes. E cito vários exemplos disso. Aprender a incluir, a acolher e a engajar a diversidade (de idade, raça, gênero, política etc). Aprender a viver em estruturas em rede e que sejam colaborativas para o conhecimento fluir. Aprender a aprender com os erros. Aprender que ser crítico e imaginativo é mais importante do que recitar um montão de fórmulas do passado. É preciso desaprender para aprender.
data de publicação: 23/10/2019