O princípio da cooperação é a base da sobrevivência de todas as formas de vida no planeta. Dentro desta lógica, a civilização humana, agora afrontada de forma inédita por uma pandemia de abrangência global, tem a oportunidade de resignificar seus valores e comportamentos, valorizando atitudes que passam necessariamente pela ética, sustentabilidade e uma visão mais colaborativa.
O movimento conhecido como Capitalismo Consciente se originou nos Estados Unidos há alguns anos, a partir de um estudo acadêmico que analisava como as empresas conseguiam manter alta reputação e fidelidade dos clientes sem ter investimentos exorbitantes em publicidade e marketing. A resposta estava no propósito e no engajamento social.
No Brasil, o movimento é mais recente, porém não menos impactante. Muitas empresas estão revendo sua forma de atuação, repensando suas campanhas de marketing com produtos amigáveis ao meio ambiente, com políticas mais inclusivas junto aos colaboradores. A meta é o lucro associado ao bem-estar social.
Há muita sintonia entre este movimento e o Cooperativismo, pois em ambos as pessoas estão efetivamente no centro do negócio.
De um lado temos os sete princípios do movimento cooperativista que por si só são auto explicáveis: adesão livre e voluntária; gestão democrática; participação econômica igualitária; autonomia e independência; foco na educação, formação e informação; intercooperação; e interesse pela comunidade.
O Capitalismo Consciente, por sua vez, entende os negócios como meio para elevar a existência humana e contribuir para que as pessoas prosperem e alcancem felicidade plena. Negócio, nesta concepção, tem que ser obrigatoriamente ético e criar valor para os indivíduos e sociedade em geral.
As empresas conscientes têm como propósito implantar novas relações de consumo e um modelo de vida mais natural e coletivo para seus clientes e stakeholders. Adotam também cultura organizacional que valoriza a responsabilidade, diversidade, liderança compartilhada e o trabalho em equipe. Assim fazem jus à denominação de “empresas humanizadas” e, segundo estudos recentes, obtêm resultados diferenciados como 224% de colaboradores mais satisfeitos, 239% de consumidores fiéis e 132% maior retorno para investidores e acionistas.
Ao longo dos últimos quatro meses, período no qual o mundo mudou em razão da pandemia, existem inúmeros exemplos de solidariedade e apoio às pessoas e comunidades advindos da atuação das instituições financeiras cooperativistas. Ações que vão desde a disponibilização de novos produtos e serviços acessíveis por canais digitais, elevação de carências e prazos das operações, até a redução de taxas e outros custos operacionais visando dar alívio financeiro aos seus associados.
Além disso, promoveram doações de equipamentos às redes hospitalares locais; investiram recursos na preservação das vidas dos profissionais da saúde; distribuíram cestas básicas às famílias em vulnerabilidade social; cuidaram da saúde física e mental de seus colaboradores, muitos deles em trabalho home office, inclusive realizando testes profiláticos para detecção da Covid-19, o que contribuiu para tranquilizar famílias e proteger os grupos de risco.
Mas há muito ainda por fazer tanto pelas empresas que advogam pelo capitalismo consciente, quanto pelas empresas cooperativistas, para transformar a realidade econômica e social do país.
As cooperativas de crédito, por exemplo, ainda têm poucos associados originários das faixas mais carentes da população, com renda inferior a dez salários mínimos. E este desafio é bem pontuado quando observamos que recentemente mais de 107 milhões de brasileiros se cadastraram no Programa Auxílio Emergencial, sendo 64 milhões beneficiados, fato que indica o quanto as cooperativas de crédito podem ajudar na redução da vulnerabilidade desses cidadãos, no momento pós-pandemia, com educação financeira e ações de estímulo à geração de empregos e renda, bem como facilitando o acesso aos recursos para o empreendedorismo, sonho de muitos compatrícios.
Finalizando nossa conversa, lembro das palavras que ouvi de uma jovem designer, conhecedora recente do movimento cooperativista, que também ressoam na filosofia do capitalismo consciente: “O cooperativismo, como um todo, tem sua base numa cultura colaborativa cujo agente motivador é o desenvolvimento, progresso e bem-estar de seus membros e da sociedade. Seu sistema estimula a inteligência coletiva, a qualidade das conexões, a diversidade, recombinações, novas visões de mundo, entre outras características”.
É disso que estamos falando!
Kedson Macedo
Presidente da Confebras e Diretor Executivo na Cooperforte
Data da publicação: 31/07/2020