Nas instituições financeiras cooperativas, historicamente, os intervalos de crise têm-se transformado em oportunidades de crescimento e de ganho de mercado.
Uma das áreas em que o avanço se mostra mais relevante, quando comparado ao mercado bancário tradicional, é a do crédito – componente essencial para a dinâmica da economia. As cooperativas conseguem preservar seu compromisso de assistir os cooperados em suas demandas, ao manterem estáveis as carteiras de empréstimos. Isso é possível pelo fato de conhecerem melhor o seu público, em razão da confiança gerada pela especialidade e pela proximidade, bem como por operarem, fundamentalmente, com arranjos locais e categorias profissionais impactados em menor grau pela contração da atividade econômica.
Para se ter uma ideia, no triênio 2008-2011, intervalo central da crise do “subprime”, o avanço da carteira de crédito das cooperativas no Brasil foi da ordem de 73%, para uma evolução de 41% no sistema bancário tradicional – não computados os bancos oficiais, pois a sua atuação nesse particular foi totalmente atípica, como é de conhecimento público.
Já no ciclo de retração econômica atualmente em curso, considerando as posições da carteira em 31/12/2014 e 30/6/2017, o saldo de crédito das cooperativas evoluiu 24%, contra apenas 3% do sistema bancário. Ainda nesse intervalo, se a referência forem as liberações de novos recursos a relação é de 22% contra (-)12%
Mas o bom desempenho das cooperativas em períodos adversos não se limita às operações de crédito. Considerando a evolução de depósitos, constata-se um gap ainda mais expressivo, o que evidencia elevada confiabilidade no setor. Entre 2008 e 2011, com efeito, observa-se uma taxa de expansão de 101% contra 32% dos bancos convencionais. De 2014 a junho de 2017, por sua vez, o incremento foi de 65% para 16%.
Situações de escassez, por outro lado, especialmente agora que vêm combinadas com um quadro de redução acentuada da taxa de juros, pedem especial parcimônia com os gastos, o que recomenda a revisitação de estruturas, processos, contratos de prestação de serviço e outras variáveis no campo das despesas administrativo-operacionais. Um aproveitamento mais efetivo dos componentes organizacionais das entidades de segundo e terceiros níveis do respectivo sistema cooperativo é, sem dúvida, medida a ser considerada para a diluição de custos e investimentos locais. Aliás, calha bem, aqui, a lição de Benjamin Franklin: “Cuidado com as despesas miúdas: pequenos vazamentos podem levar um grande navio a pique”.
A outra variável a ser trabalhada sobretudo nesses novos tempos é a das receitas, requerendo-se esforços redobrados para diversificar os negócios por meio da ativação e verticalização das várias soluções que compõem o portfólio comercial das cooperativas.
Em conclusão, à luz das evidências históricas, uma vez que se mantenha fiel aos seus valores e princípios, e explore adequadamente as oportunidades decorrentes de seu modelo de negócio, o cooperativismo financeiro reúne condições excepcionais para fazer a travessia e ainda prosperar em tempos hostis.
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Ênio Meinen, diretor de operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob) e autor do livro “Cooperativismo Financeiro: virtudes e oportunidades – Ensaios sobre a perenidade do empreendimento cooperativo” (Confebras, 2016).